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09/06/2021 - Notícias depois da mesa 3

 

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Tecendo redes

Representantes de redes e núcleos de pesquisa apresentam propostas de trabalho conjunto para o desenvolvimento sustentável dos territórios

 

 

A última mesa do II Seminário Internacional e IV Jornada da Agricultura Familiar, que aconteceu entre os dias 19 e 26 de maio, e 02 e 09 de junho, abriu caminhos para o início de novos trabalhos conjuntos para o desenvolvimento sustentável dos territórios rurais da América Latina.

 

Por meio das redes digitais e sob a moderação do moderação de Sérgio Sauer, presidente do Observatório de Conflitos Socioambientais do Matopiba, representantes dos núcleos e redes de pesquisas empenhadas na organização do evento apresentaram propostas de  temas a ações para o trabalho conjunto

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Entre as propostas apresentadas pelos gestores estão ações para a democratização da terra para a agroecologia, a criação de um periódico com partilha de experiências de gestão, criação de novos métodos de pesquisa e de um Observatório Territorial Rural e alimentar dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS).

 

Acesso à terra, redução das desigualdades e ODS

 

O primeiro a apresentar propostas para o trabalho conjunto foi Acácio Zuniga Leite, presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) e do Núcleo de Estudos Agrários da Universidade de Brasília (Neagri-Unb). Ele destacou as desigualdades e ODS como sínteses que estão ligadas ao tema da terra e que, portanto, devem ser objetos para o trabalho em redes.

 

O presidente da ABRA falou sobre os objetivos da associação diante das complexidades atuais das temáticas rurais. “A ABRA é uma esperança permanente de manter a bandeira necessária da reforma agrária acesa na nossa sociedade”, explicou.

 

Segundo Leite, hoje, diferente dos anos 1960, o viés ambiental e alimentar estão mais presentes nas questões agrárias. Ele também elencou o boom das commodities, a financeirização da agricultura e da terra como questões agrárias atuais que empurram para um processo de cooperação, também em razão do fim da onda de políticas progressistas que incidiu na América Latina, impondo novos desafios para o trabalho coletivo.

 

“Eu diria que a gente está em uma nova hélice da espiral da questão agrária Brasileira que trás todos esses elementos”, observou.

 

Leite também lembrou do conceito de sindemia, quando há interação de duas ou mais doenças causando impactos maiores, indicando que as crises sanitárias atuais estão ligadas aos modelos e sistemas convencionais de produção.

 

Integração pela democratização do acesso à terra

 

Dando sequência à defesa pelo acesso à terra, Flaviane Canavesi, presidente do Núcleo de Agroecologia (Nea-UnB), destacou a necessidade de ações para a democratização do acesso à terra para a agroecologia, lembrando que a Agroecologia começa com a questão do acesso à terra.

 

“Isso é bem importante que a gente traga porque a agroecologia é, também, um projeto político de sociedade. Ela não passa só pelas mudanças técnicas, que são relevantes. Mas, nós temos que pensar mais a nível das transformações mesmo. Nós temos, hoje,  experiências de agroecologia que são desenvolvidas há muitos anos, e que não têm ainda a regularização fundiária. Tem esse conflito, então, a questão do acesso à terra, das lutas pelo acesso à terra é por onde começa a agroecologia”, enfatizou.

 

Como proposta de trabalho da rede de redes, Canavessi destacou maior integração entre a ABRA e Núcleos de estudos de questões agrárias e articulação com a Rede de Políticas Públicas da América Latina (PP-AL), observando como a Agroecologia entra na agenda dos governos.

 

A presidente do Nea-UnB também explicou que existem vários Núcleos de Agroecologia em diferentes instituições de ensino e pesquisa do Brasil, e que esse núcleos possuem relações com agricultoras e agricultores familiares promotores da agroecologia. “O objetivo dos núcleos de agroecologia é não ser do campus, mas do campo”, ressaltou, fazendo uma referência aos espaços de atuação desses núcleos.

 

Canavessi também lembrou da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo) para falar da necessidade de integração entre as instituições, políticas e os diferentes atores sociais.

 

“A Pnapo nos ensinou que não vamos avançar em uma política de agroecologia se a gente não tiver uma integração interministerial, intersetorial que a gente possa avançar. Então, é importante essa integração de políticas públicas, principalmente nos territórios. E não só intersetorial, mas Estado, sociedade e movimentos sociais”, defendeu.

 

Futuros e resiliências

 

O presidente da Rede de Políticas Públicas e Desenvolvimento Rural em América Latina (PP- AL), Jean-François Le Coq, defendeu a necessidade de pensar os impactos da crise sanitária de Covid-19 no longo prazo, e também a necessidade de analisar as resiliências diante do cenário de desmonte das políticas públicas para o desenvolvimento territorial.

 

Le Coq também explicou que a Red GTD México tem como  foco investigações de políticas agrícolas e de segurança alimentar, territoriais e desenvolvimento ambiental e rural, mudanças climáticas, cooperação, inovação e extensão. “São os diferentes domínios de políticas que afetam o rural ao fim e ao cabo”, lembrou.

 

O pesquisador pontuou as diferentes perspectivas agrárias de desenvolvimento, de território, de ambientalistas como diversidades que devem ser assumidas, mas pensando em como essas perspectivas vão além para alcançar a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade. 

 

“Pelo menos na Red, tratamos de manter vivas essas temáticas e essa diversidade de campo, de aplicação e observação, porque pensamos que todos são relevantes para os futuros e para a reflexão sobre a evolução dos territórios agrícolas e das populações que vivem nas zonas rurais”, ponderou.

 

De acordo com Le Coq, a Red mantém essas discussões realizando seminários conjuntos e gerando temas com dinâmicas de investigações coletivas que se traduzem em livros.

 

 

Estratégias para a autonomia dos territórios

 

Juan Patrício Molina, presidente da Rede Gestão Territorial para o Desenvolvimento Paz Colômbia (GTD Paz), propôs que as pesquisas em rede devem pensar na direção de estratégias, com marcos teóricos e metodológicos definidos. “As universidades devem ter um marco estratégico claro”, defendeu.

 

Outro tema proposto pelo pesquisador para o trabalho conjunto da rede de Redes foi o do papel da autonomia dos territórios. De acordo com ele, os processos de autonomia e governança nos territórios estão tendo um lugar importante, não por serem representativos, citando o exemplo colombiano, mas por serem dinâmicos e desconhecidos que não transcendem de um âmbito muito local e territorial.

 

“Nesse campo, consideramos que há um trabalho de nossas universidades de acompanhamento, de entendimento de análises, desses processos de apropriação e de autonomia e de governança territorial que não estão isolados da governabilidade do papel do estado, mas que deve, justamente poder-se buscar um adequado equilíbrio entre a governabilidade que se impõe a nível local. como também os processos de governança”, explicou.

 

Outros dois temas destacados pelo pesquisador para o trabalho da rede de redes foi o do estudo da paisagem do território e apropriação e usos da informação por parte não só dos investigadores, mas das comunidades.

 

“Como se apropriam e que usos dão às informações que geram que podemos articular nos processos de gestão social do conhecimento, nos processos de utilização das tecnologias, da revolução digital que estão obviamente mudando boa parte das formas como se relacionam entre si”, disse.

 

Conforme Molina, a Red GTD Paz é constituída por 13 universidades, sendo que 4 delas estão em Bogotá e as 9 demais espalhadas em diferentes departamentos e regiões do país. Ele também explicou que a Red atua há 5 anos com enfoque na gestão do conhecimento, o trabalho interativo com os diferentes atores sociais e os processos de construção da Paz.

 

“Como seu nome diz, temos a convicção de que a paz na Colômbia se alcança fortalecendo os processos de desenvolvimento dos territórios. Nós acreditamos, na Rede, que nosso apoio na implementação dos acordos de paz passa por criar condições, por analisar, por acompanhar a implementação plena dos acordos de paz. Neste sentido, acreditamos que a Rede deve contribuir com os processos de paz territorial”, defendeu.

 

Periódico e compartilhamento de disciplinas

 

A cientista Ramonildes Gomes, presidente da Rede de Estudos Rurais, destacou a importância da atuação em rede como um ato de posicionamento.

 

“Acreditamos que atuar em rede é uma decisão de marcar um posicionamento político e um posicionamento no modo específico de produzir conhecimento frente às próprias associações cientificas”, manifestou.

 

Como proposta para o trabalho da rede de Redes, a presidente da Redes Rurais, que em outubro promove o seu 9ª Encontro em formato virtual, sugeriu a criação de um periódico e o compartilhamento de disciplinas entre os professores e pesquisadores da rede de Redes.

 

“Imagino que, tendo um periódico organizado a partir das redes, nós podemos assumir um compromisso dessa envergadura, compartilhando a gestão, e ao mesmo tempo ampliando o espectro dos pesquisadores que podem publicar e fazer circular mais ainda essas experiências em nossos países e também nossas redes”, explicou. 

 

Além disso, Gomes também pensou no compartilhamento de disciplinas curriculares, cursos de férias ou seminários em espaços acadêmicos, ou em núcleos. De acordo com ela, essa ação teria o objetivo de criar uma aproximação maior entre os grupos de pesquisas e também entre os próprios pesquisadores individualmente.

 

A presidente também falou sobre os 15 anos de existência da Rede de Estudos Rurais. “É importante dizer que a Rede de Estudos Rurais tem um princípio muito claro de ser uma instituição viva e presente com uma atuação que busca sempre relacionar a produção do conhecimento, às vozes da sociedade, particularmente das populações do campo, para contribuir diretamente com análise das políticas públicas. Acho que essa é uma missão e um valor inconteste da nossa rede”, explicou.

 

 

Novos métodos de pesquisa

 

Ainda na direção da construção coletiva, Mireya Valencia, presidente da Rede Brasileira de Pesquisa e Gestão em Desenvolvimento Territorial (RETE Brasil), destacou a necessidade da criatividade para pensar as questões complexas. Como exemplo, Valencia citou a questão do método como novas formas de fazer pesquisa.

 

De acordo com ela, não dá pra pensar a realidade de forma fragmentada, a partir apenas de uma perspectiva ruralista, agroecológica ou territorial, mas entender e ter métodos que permitam compreender essa realidade de forma articulada. Ela também destacou outras questões mais pontuais, como a cooperação, a coordenação, além das mudanças e transformações.

 

“Este, de fato, é um convite para a ação. É um convite para compreender, criar conhecimento, gerar conhecimento,  mas um conhecimento que seja transformador. É absolutamente necessário essas pessoas e nós mesmos que estamos vendo essa realidade dessas comunidades que estão precisando cada vez mais de muitos parceiros que ajudem nessa transformação. É uma ação coletiva para a transformação”, convidou.

 

Valencia destacou que o horizonte do trabalho das redes é a necessidade de avançar e conseguir impacto pela qualidade entre os espaços rurais e urbanos. Para isso, os temas intermediários e de foco entre as redes, em termos de políticas públicas, devem ser as questões agrárias, diversidade produtiva, digitalização e sustentabilidade.

 

“Além da gente continuar construindo conhecimento, estratégia e pensar ou analisar o que está acontecendo nos espaços rurais, o desafio muito mais importante é incidir. Incidir pela mudanças, incidir pela transformação. Acho que esses são os aspectos que nos convocam hoje”, elencou.

 

A presidente da RETE Brasil também explicou o papel da Rede de pesquisa e gestão. “Temos uma missão de atuar na gestão e na construção de conhecimento e informação sobre dinâmicas territoriais, visando, principalmente, o aprimoramento e criação de estratégias que favoreçam o desenvolvimento inclusivo, solidário e sustentável. Essa é a missão que a gente tem como marco de nossos trabalhos”.

 

Observatório Territorial Rural e Alimentar dos ODS

 

Rafael Echeverri, presidente da Rede Gestão Territorial para o Desenvolvimento Rural do México (GTD México), propôs a criação de um Observatório para a aplicação dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) com enfoque nos territórios rurais e os sistemas agroalimentares.

 

 "Há um acordo que se chama transformar nosso mundo proposto pela Agenda 2030. A Agenda 2030 é um acordo político que se instrumenta através dos objetivos, das metas, nos meios de implementação dos indicadores”, lembrou. 

 

O pesquisador destacou que são acordos, pactos globais que têm limitações, mas que há um grande desafio da territorialização desses indicadores que devem ser observados. A partir disso, o pesquisador sugeriu que a rede de redes atue para a implementação de um observatório territorial rural e alimentar dos ODS.

 

“A ideia de que as redes que nós temos e estamos tem uma  enorme cobertura territorial e enorme presença no território Latinoamericano. Poderíamos, individualmente, cada um dos atores que formam essas redes constituir antenas. Antenas que podemos trabalhar em montar uma base de informação desde o local, de um dos elementos que nos permitam aterrissar esses indicadores nos campos nos quais nos movemos”, explicou.

 

Echeverri também disse que essa base construída através do trabalho da rede de redes criaria uma plataforma própria com dados que geraria um empoderamento e articulação de trabalho, permitindo uma interlocução com as instâncias de políticos e ajudaria na agenda de formação.

 

Ainda segundo Echeverri, essa plataforma com foco nas questões locais pode ajudar a reduzir os problemas como as desigualdades e privilégios, que já eram graves na América Latina e que se acentuaram com o contexto de pandemia.

 

“O problema da América Latina não é desigualdade, se chama privilégios. Precisamos encontrar mecanismos que nos ajudem a gerar mecanismos democráticos para poder superar uma série de barreiras que estão bloqueando a possibilidade de desenvolvimento na América Latina, e um instrumento como esse pode ser concreto”, defendeu.

 

Durante a sua apresentação, o pesquisador também falou sobre a atuação da Rede GTD México, que, conforme expôs, tem como mecanismo de orientação a gestão do conhecimento, a mobilidade e intercâmbio entre as redes, a divulgação e a internacionalização.

 

“A rede buscava, desde o início, enriquecer a política. Tem um vínculo muito forte com a política pública de início, e se buscava através de poder refletir a investigação, a docência, e contribuir com evidência, evidência que fortalecesse os processos de tomada de decisão, de  avaliação de consolidação e implantação da política pública”, concluiu.

 

 

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