DEPOIS
19/05/2021 - Notícias depois da mesa de abertura
Quatro ideias para uma nova geração de políticas para o desenvolvimento territorial
Cientistas da Colômbia, Brasil e Espanha apresentam caminhos no II Seminário e IV Jornada
As mudanças climáticas, sanitárias, ambientais e culturais têm mobilizado diferentes atores sociais em busca da sustentabilidade do planeta. Nessa jornada, a ciência tem se destacado por fornecer referências, indicadores, ideias e ações seguras para o desenvolvimento equilibrado dos territórios.
No dia 19 de maio, as pesquisadoras María Adelaida Farah (Pontifícia Universidade Javeriana, Colômbia), Sergio Schneider (UFRGS), Arilson Favareto (Universidade Federal do ABC) e Rafael Echeverri (Universidade de Córdoba) participaram do Painel de Abertura do II Seminário Internacional e IV Jornada da Agricultura Familiar.
Mediados pela cientista Cidonea Deponti (Unisc), e à luz dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 os cientistas palestrantes, especialistas em desenvolvimento territorial, gênero no mundo rural, mercados alimentares e gestão territorial apresentaram a diversidade de gênero no mundo rural, os sistemas alimentares territorializados, a regulação do uso da terra e a produtividade para a sustentabilidade como lugares de atenção da nova geração de políticas para o desenvolvimento territorial.
A diversidade na perspectiva de gênero nos territórios rurais
A cientista Maria Adelaida Farah, professora e pesquisadora de gênero e transformações no mundo rural da Pontifícia Universidade Javeriana da Colômbia, destacou em sua fala o ODS Igualdade de Gênero.
Farah iniciou a sua apresentação explicando que é preciso entender gênero em sua diversidade, e que uma nova geração de políticas públicas deve evidenciar, visibilizar e melhorar as condições de gênero, além de promover igualdade e equidade em temas como a economia do cuidado, terra, trabalho agrícola e rural, crédito, educação e LGBTQIA+.
Ela citou dados de pesquisa que indicam maior tempo de ocupação das mulheres que vivem no campo em atividades relacionadas à economia do cuidado, e que pessoas LGBTQIA+ que vivem em territórios rurais não são assistidas pelas políticas públicas. A pesquisadora defendeu que esses são temas que “as políticas públicas precisam trabalhar muito fortemente”.
Farah também explicou que é um estereótipo pensar que gênero engloba apenas as mulheres, e que é preciso promover rupturas culturais que envolvem o patriarcado.
“A perspectiva de gênero é uma construção de toda a sociedade, e deve ser pensada por todos e por todas e insistir que o tema de gênero deve potencializar, fortalecer as diversidades, e não buscar rompê-las. Ao contrário, fomentá-las”, defendeu Farah.
A professora decana da Universidade Javeriana concluiu a sua fala destacando o empoderamento, e que as medidas de ações afirmativas implementadas pelas diferentes instituições devem conduzir para medidas de transformação que construam “uma sociedade mais equitativa em termos de gênero”.
Os Sistemas alimentares Territorializados
Articulando o tema territórios rurais, sistemas alimentares e agenda 2030, o cientista Sergio Schneider, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), deu enfoque aos sistemas alimentares territorializados. Schneider considerou que os ODS são “uma janela de oportunidades” para os sistemas alimentares territorializados.
Ele explicou que as transformações dos sistemas alimentares devem partir do urbano, nas mudanças dos hábitos alimentares (crescimento do veganismo e preferência por orgânicos), pela eleição de representantes políticos, e pelos mercados de venda por redes, cooperativismo e redução dos custos de transação ocasionados pela digitalização.
De acordo com o pesquisador, os sistemas alimentares territorializados - que ele também chama de mercados territorializados -, possuem ao menos quatro abordagens teóricas, e destacou os pontos em comum entre elas:
“Os sistemas alimentares territorializados estão situados em espaços e lugares claros, a escala dos sistemas alimentares é reduzida; a governança é realizada pelos próprios atores; são socialmente inclusivos; possuem foco na agricultura familiar e outros atores sociais; trabalham a sustentabilidade”, enumerou.
Ainda conforme Schneider, os mercados territorializados são uma forma de economia social que se propõe como uma alternativa aos sistemas globalizados, o que ele tem chamado de contramovimento ao capital. Os sistemas alimentares territorializados são pouco formalizados e têm como bases a confiança e reciprocidade.
Regulação do uso da terra
O professor e pesquisador da UFABC, Arilson Favareto, iniciou a sua fala analisando que a unificação das agendas ambiental e humana, a abordagem multidimensional, a linguagem compartilhada e as metas com prazos tangíveis são pontos positivos da agenda, mas que a falta de estratégias e a abordagem fragmentada são alguns dos limites dos ODS.
“O grande desafio para o qual a narrativa da agenda 2030 e dos ODS nos convidam é repensar as formas de relação entre sociedade e natureza e a maneira como as sociedades utilizam os seus recursos para expandir o bem-estar humano tentando fazer isso de uma maneira coerente com a conservação ambiental. Toda a questão está no como fazer isso”, ponderou.
Favareto apresentou seis ideias para uma nova geração de políticas para o desenvolvimento territorial: implosão do dualismo agricultura industrial/agricultura familiar; atenção para novas formas de usos dos recursos naturais; regulação dos usos da terra; diversificação das economias rurais; coalizão das forças sociais e coordenação na implementação de políticas públicas.
Ele também destacou que não há como alcançar os ODS sem atenção especial para as áreas rurais dos países. O pesquisador levantou que das 169 metas propostas pelos 17 ODS, 132 delas estão relacionadas com os territórios rurais, sendo que 36 das 169 são predominantemente destinadas aos espaços rurais.
Apresentando resultados de suas pesquisas, Favareto revelou um panorama do cumprimento das ODS Erradicação da pobreza (01), Fome zero e agricultura sustentável (02), Saúde e qualidade de vida (03), Educação (04) e Igualdade de Gênero (05) pelos municípios rurais brasileiros.
Através de um mapa em escala de cores verde e marrom, no qual o tom mais verde representa o cumprimento da meta, e no tom mais marrom, distância no cumprimento da meta de ser alcançada, Favareto evidenciou que os territórios rurais das regiões sul, sudeste e centro-oeste destacam-se na erradicação ou proximidade de erradicação da pobreza, enquanto os municípios do norte e nordeste ainda estão mais coloridos em tons de marrom, indicando maior distância de alcançar a meta erradicação da pobreza.
Nos ODS Saúde e qualidade de vida, o pesquisador destacou a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) para que tanto os territórios rurais quanto os urbanos estejam mais próximos de erradicação da mortalidade neonatal. No ODS educação, o mapa volta a apresentar desigualdades no cumprimento da meta, assim como na igualdade de gênero, que apresenta que o Brasil urbano e rural estão distantes do cumprimento da equidade na presença de mulheres na política.
“Portanto, discutir políticas para o mundo rural é extremamente decisivo se as sociedades quiserem levar a sério e cumprir os ODS”, disse.
Produtividade para a sustentabilidade
Rafael Echeverri, coordenador da Rede GTD México e pesquisador da Universidade de Córdoba, destacou que a Agenda 2030 é um grande acordo global e compromisso de governos que reúne metas para o desenvolvimento sustentável com meios de implementação.
“A agenda não é acadêmica, não é técnica, tem um profundo sentido político e de política pública”, disse Echeverri.
A partir dos seus estudos comparados sobre as políticas públicas do Brasil, Colômbia e México na Universidade de Córdoba, o palestrante destacou que os países da América Latina não possuem bom desempenho no cumprimento dos ODSs, e que a situação tende a se agravar com a crise sanitária de Covid-19.
Echeverri mencionou que antes mesmo da pandemia de Covid-19, a América Latina já vinha enfrentando dificuldades com a queda em taxas de vacinação, indicadores educacionais, gerenciamento de recursos da naturais e crescimento econômico, perda de exportações. Também destacou o aumento no registro de mortes violentas de jornalistas e ativistas nos territórios Latinoamericanos.
Echeverri, que também já ocupou o cargo de vice-ministro da agricultura da Colômbia, analisou que os ODS alertam para o sentido de que precisamos promover transformações e mudanças, entre elas a introdução de um novo conceito de produtividade que nos direcione para a sustentabilidade.
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